“Adaptação” tem sido a palavra de ordem nas escolas portuguesas, nas últimas semanas. Enquanto, até dia 9, o Governo não anuncia em que moldes vai decorrer o terceiro período do ano letivo, os agrupamentos vão-se preparando para continuar a funcionar com ensino à distância. Em muitos países europeus, é também esse o cenário expectável. Com algumas exceções, como é o caso da Alemanha, que está a estudar a hipótese de atribuir aos cidadãos “certificados de imunidade”, a quem estiver recuperado da doença, esperando, dessa forma, conseguir começar a reabrir espaços públicos, nomeadamente escolas.

Há países com uma estratégia mais estruturada para o ensino virtual, como é o caso de França ou da Croácia, que disponibilizam plataformas digitais, a nível nacional, que permitem difundir conteúdos entre professores e alunos. Mas há outros, nos quais se inclui a Itália – dos mais afetados pela pandemia – em que as “aulas” estão a ser lecionadas, maioritariamente, através de plataformas comuns, como a Zoom, o Skype, o Mentimeter, a Classroom ou, até, o Whatsapp.

Na vizinha Espanha, o cenário não difere muito de Portugal. Com a semelhança de estar a existir a dificuldade de chegar aos alunos que não têm acesso à internet ou computador em casa. Ao que tudo indica, uma em cada cinco casas carece de computador. É por isso que o Ministerio de Educación y Formación Profesional está a tentar gizar um plano, junto das operadoras de telecomunicações, para colmatar essa lacuna. “Estamos a trabalhar a possibilidade de, através do telemóvel, podermos transmitir também conteúdo educativo”, adiantou Isabel Celaá, ministra da Educação, citada pela “Europa Pressa”. De acordo com a mesma agência noticiosa, o Governo espanhol está também a trabalhar para identificar os alunos que não se conectam às aulas à distância e chegou a um acordo com a Television Española, para emitir material audiovisual educativo. Um pouco à semelhança do que também já se sabe que vai acontecer em Portugal, com conteúdos que vão ser difundidos pela RTP.

Redes bloqueadas
Outro dos problemas com que os professores espanhóis, mais propriamente de Madrid, se têm deparado é com os servidores de internet sobrelotados, o que os impede de aceder às plataformas digitais. “Temos um contra que está a transformar o nosso trabalho numa luta de titãs: a plataforma informática que nos exigem que usemos para salvaguardar a privacidade necessária dos nossos alunos. Trata-se da Educamadrid, com aulas virtuais Moodle bloqueadas, salas de videoconferência sem imagem nem áudio, correio eletrónico fora de serviço e ‘chats’ que não enviam mensagens”, explicou, ao jornal “El País”, Paloma Rodriguez, professora do ensino secundário em Villaciciosa de Odón.

Tem restado a esses professores utilizar outras plataformas, como é o caso do Whatsapp. Em França, essa é também uma das aplicações mais utilizadas para a comunicação entre docentes e alunos, a par da Zoom, Twitch, Skype, ou mesmo Snapchat ou Discord . Essas ferramentas estão a ser utilizadas pela comunidade escolar, apesar de o sistema educativo nacional ter uma plataforma de videoconferência para dar aulas à distância, a “Ma classe à la maison” , disponibilizada pelo Centro Nacional de Educação à Distância. No entanto, a mesma também tem tido problemas, devido à elevada afluência. É por isso que, de acordo com o jornal “Le Monde”, a Zoom “aumentou o limite das contas gratuitas para França”, a partir do momento em que as escolas todas encerraram, e “aumentou a duração máxima, para 40 minutos, de uma sessão de vídeo”, de forma a que possam ser lecionadas aulas.

O governo francês também já anunciou que ficam sem efeito os exames finais (Bac e Brevet), sendo os mesmos substituídos por avaliação contínua. O Ministério da Educação entendeu, no entanto, manter agendado um exame oral, que já fazia parte do método de avaliação francês.

A televisão como ferramenta
França também já está a recorrer à televisão para ministrar conteúdos letivos, à semelhança do que vai acontecer em Espanha e em Portugal. Assim como em Itália ou como na Irlanda. A programação dos canais da France Télévision foi alterada, para transmitir aulas ao vivo, com conteúdos do 1.º ao 12.º ano. “Essas lições estão centradas nos fundamentos de matemática e francês, para o ensino fundamental e médio, duas matérias às quais se acrescenta história, inglês e ciências para estudantes do ensino médio”, exemplificou Amel Cogard, diretora de educação da France Telévisión, citada pelo jornal “La Croix”.

Em Itália, também logo no início de março, foram tomadas decisões semelhantes. Através de um acordo com o Governo, a emissora RAI passou a disponibilizar, através da plataforma RAI Play, conteúdos do canal RAI Scuola.

Por toda a Europa – tal como por todo o Mundo –, em tempos de emergência, têm surgido soluções inovadoras para dar resposta ao ensino. A Croácia, por exemplo, está a ser vista como um exemplo, por se ter preparado com antecedência para o ensino à distância, agora fulcral, com as escolas encerradas. Lá, os alunos dos 7 aos 10 anos terão aulas pela televisão, enquanto os dos 11 aos 18 acompanharão as matérias através de lições em vídeo e de plataformas digitais. Além disso, antes de as escolas fecharem portas foram preparados tutoriais (para professores e alunos). Existe, contudo, uma diferença entre a Croácia e outros países: os croatas já vinham a preparar o ensino virtual há alguns anos e, nos últimos dois, de acordo com um documento do ministério da Ciência e Educação daquele país, foram dados 30 mil computadores a professores, 100 000 tablets a alunos e 13 mil computadores foram entregues a escolas.

O que nos falta por cá
Em Portugal, a falta de material tecnológico tem sido uma das queixas por parte da comunidade escolar. Governo, autarquias e sociedade civil (com acções de solidariedade diversas) têm unido esforços para solucionar o problema, que ainda não tem fim à vista. Porque, apesar de ainda não se saber como vai decorrer o terceiro período, os agrupamentos escolares têm-se adiantado e estão, eles próprios, a preparar-se para fazer chegar aos alunos conteúdos, trabalhos e aulas, de forma virtual.

“O mais difícil está a ser arranjar meios de acesso para todos os nossos alunos. Mas há uma panóplia de entidades que está a querer ajudar”, confirmou Filinto Lima, presidente da Associação de Agrupamentos e Escolas Públicas. As críticas principais vão, no entanto, para o ministério da Economia e Transição Digital, que, a seu ver, “devia honrar o nome que tem”. “Esse ministério tem estado um pouco ausente e é seu dever dotar os lares dos nossos alunos de condições para que possam ser dadas aulas à distância”, sublinhou. Até porque, “hoje em dia, um computador com ligação à internet não é nenhum luxo, mas sim algo essencial”.

É, precisamente, através de uma simples ligação à internet que a maior parte dos alunos portugueses tem conseguido acompanhar à distância, em várias plataformas digitais, os conteúdos educativos.

Por: Salomé Filipe

Fonte: https://www.educare.pt/noticias/noticia/ver/?id=166487&langid=1